Brasil, Austrália e Canadá possuem algumas características semelhantes que tornam a comparação entre suas forças aéreas viável. Essa afirmação, que poderia causar estranheza se nos atermos somente as suas culturas - já que estamos falando de um país de língua oficial neolatina (Brasil), um de língua oficial germânica (Austrália) e um com duas línguas oficiais (Canadá, sendo uma língua neolatina e outra germânica) -, também não é fácil de ser aceita por estarmos falando de um país emergente ou em desenvolvimento (o Brasil) e de outros dois países desenvolvidos (Austrália e Canadá). Se considerarmos a população, uma nova dificuldade em encontrarmos essas semelhanças se revelará. Isso porque, enquanto o Brasil possui uma população de ao menos 203 milhões de habitantes, a Austrália possui ao menos 25 milhões e o Canadá cerca de 38 milhões.
De onde então tiramos a informação de que esses países possuem características parecidas? É que dentre os países que possuem grandes territórios (o Canadá é o 2º, o Brasil é o 5º e a Austrália é o 6º), os que têm a economia mais similar são essas três Estados. Por economia, obviamente, não estamos falando em estágio de desenvolvimento, mas em relação a produção anual de riqueza. Em 2024, a estimativa é que o Brasil possuirá o 8º maior PIB do mundo, o Canadá o 10º e a Austrália o 13º.
Antes de nos atermos as semelhanças, há outras distinções interessantes que devem ser notadas. Embora Brasil, Austrália e Canadá foram formados a partir da colonização europeia, enquanto o Brasil foi uma colônia de exploração de Portugal, a Austrália e o Canadá foram colônias de povoamento do Reino Unido. Isso influenciou a própria forma de governo adotada por esses países hoje: enquanto o Brasil é uma república, Austrália e Canadá são monarquias parlamentares.
Feitas todas essas ressalvas, e desconsiderando também todas as diferenças de características naturais entre eles, seus grandes territórios impõem desafios parecidos às forças aéreas de cada um desses países, obviamente em relação as distâncias. E com um poder econômico equivalente - inclusive sendo grandes exportadores de produtos primários -, que permite ter um mesmo poder de compra de aeronaves para proteger seus territórios, a comparação nos permite fazer algumas afirmações sobre o poder da Força Aérea Brasileira.
Em primeiro lugar, levando em consideração os dados do site Scramble, em sua sessão Order of Battles, enquanto o Brasil (FAB) possui 28 aeródromos (no nosso entender são 35, sem contar as pequenas infraestruturas na Amazônia), o Canadá (RCAF) possui 20 e a Austrália (RAAF) 16.
Apesar de ter uma concentração na região Sudeste do país, a FAB possui uma melhor distribuição de seus aeródromos pelo território, já que a RAAF possui aeródromos quase exclusivamente no litoral (e até na Malásia) e a RCAF a maior parte no sul do país.
Contudo, o dado que chama mais atenção é o das aeronaves. Enquanto a RAAF e a RCAF utilizam um único modelo de transporte leve (respectivamente o Beechcraft Super King Air e o De Havilland Canada DHC-6 Twin Otter), o Brasil possui quatro modelos (Embraer C-95 Bandeirante, Embraer C-97 Brasília, Cessna C-98 Caravan e Embraer U-100 Phenom). Por outro lado, enquanto também temos dois modelos com pesagens parecidas (Embraer C-99 e EADS/CASA C-105 Amazonas), tanto a RAAF quanto a RCAF possuem um só modelo (respectivamente o Leonardo C-27 Spartan e o De Havilland Canada Dash 8, embora esse último seja usado como aeronave de treinamento).
Um outro exemplo de grande variedade de meios versus o racionamento é quanto a aeronaves com radares capazes de fazer operações de patrulha ou busca e salvamento. Enquanto a FAB utiliza três modelos (Lockheed P-3 Orion, Embraer P-95 Bandeirulha e Airbus SC-105 Amazonas SAR), a RAAF utiliza um só modelo (Boeing P-8 Poseidon) e a RCAF dois modelos (Boeing P-8 Poseidon e o Airbus C-295).
Por óbvio, há também similaridades: todos usam uma grande (e mesma) aeronave de passageiros (Airbus A330), transportadores táticos da mesma faixa de peso (Lockheed Martin C-130 Super Hercules e Embraer KC-390 Millenium) e também patrulheiros (Lockheed P-3 Orion e Boeing P-8 Poseidon).
Mas o grande problema está no uso de aeronaves com grande pesagem e ou alcance para sua classe. Em termos de UAV pesado, a RAAF usa o Northrop Grumman MQ-4 Triton. A FAB não tem nada similar. Já em termos de UCAV, a RCAF usa o General Atomics MQ-9 Reaper. Novamente, a FAB não possui nada. Quanto ao transporte pesado, RAAF e RCAF usam o Boeing C-17 Globemaster III. A FAB não possui nada parecido. E em relação ao helicóptero pesado, a RCAF usa o Boeing CH-47 Chinook. A FAB nada.
Em resumo, embora a FAB tenha uma maior diversidade de aeronaves e aeródromos, ela carece de alguns recursos cruciais presentes na RAAF e RCAF, como UAVs de longo alcance e transportes pesados. A comparação revela que, apesar das similaridades econômicas e territoriais, cada força aérea tem prioridades e capacidades distintas.